terça-feira, 19 de julho de 2011

À Guilherme Felipe Rocha Fernandez

Pela manhã a tua canção me invadiu os ouvidos.

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O dia amanheceu quente, e o meu coração, tão… frio.
Por mais que o sol queimasse do lado de fora de minha janela, eu sentia a brisa gelada dentro de meu quarto acompanhado de um refrão antigo: “Ninguém escolhe um quarto como opção de fuga.” Era o que tu repetia nos timbres mais altos, nas cifras complexas…
Sempre tentava, ao menos, chegar em uma boa parte da música contigo- ainda que minha garganta sangrasse, eu continuaria cantando. Mas agora, não mais…
A música parou. E não foi só pra mim, foi pra ti também.

De que vale cantar Biografia em Notas Soltas se tu já não está aqui pra cantá-la comigo? De que vale ter teu violão guardado se eu já não tenho forças pra tocá-lo?

Lembro-me da última vez que o visitei ainda em vida e do momento em que me tocou Pais e Filhos (Legião Urbana). Por mais que estivesse debilitado, conseguiu chegar até o fim da música e logo após me disse: “Eu tenho tanto medo de morrer, chega a ser engraçado.” E eu dizia que aquilo não aconteceria, não naquele momento e não daquela forma. Tu sorriu, segurou minhas mãos e ali adormeceu. Deixei o violão (que agora é meu) encostado ao lado de tua cama de hospital e um gato de pelúcia, que tu me dera da vez que eu disse que ia permanecer no Sul por algum tempo.
Eu caminhava em direção à saída do quarto, mas não conseguia seguir sem olhar pra trás. E quando finalmente fui, eis que no dia seguinte recebo a pior notícia que alguém em minhas condições poderia receber.
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…Foi triste ver-te ali, todo roxinho, sem expressão alguma. Doeu em mim, e acredite, ainda está doendo.

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Eu voltaria no dia que nos conhecemos, nas vezes que brigamos sem motivos, nas brincadeiras com tapas, nas broncas, nos conselhos… Eu voltaria ao início…

Não ao início de tudo, mas quando eu ainda podia ter seu sorriso e sua voz.

Agradeço por tudo que fez por mim, por todos os sorrisos. Obrigada MESMO. E ainda que não esteja presente, sinto-te perto.

Eu lhe amo, sempre amarei. ♥

sexta-feira, 13 de maio de 2011

A gente procura se perder,

Mas uma hora precisa se reencontrar.
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Retirei do bolso um isqueiro- que já nem lembrava que tinha- saquei um cigarro e acendi.
Continuei descendo a ladeira em direção à casa de Bruno com passos pesados e ziguezagueantes. (Confesso que com alguns pensamentos revirados, também.) As memórias passavam como flash-backs em minha cabeça.
Naquele momento eu me lembrava de Bruno. Era como se eu revirasse o passado, sem pular nenhuma parte.
Lembrava-me de quando nos conhecemos e de nossa afinidade imediata.
A brisa gelada da madrugada parecia me remeter à sua voz, calma e gentil; E as luzes alaranjadas e acolhedoras dos postes- que pareciam me cobrir como um véu-, me lembravam dos carinhos no cabelo que ele costumava me fazer de madrugada;
Por um momento, sorri.
Lembrei-me das noites em claro regadas à muito café e cigarros, do pedido de namoro acompanhado de rosas vermelhas e das vezes em que chegávamos juntos e embriagados plena 7:00 da manhã gritando no meio da rua que éramos as pessoas mais felizes do mundo. E realmente, nós éramos. Nós fomos.
Lembrava-me com clareza de todos os detalhes de nosso passado não muito distante, inclusive de uma última carta que dizia: "E quando eu for partir, não te esqueça: eu sei pra onde ir. E se restar mágoa, desejo que as lágrimas lavem seu rosto como água."
Tornei a realidade, meus olhos imediatamente se encheram de lágrimas. E como Bruno mesmo desejara, as lágrimas lavaram meu rosto como água.
Parei em frente à casa de Bruno- que nessa altura, já estava vazia e com as luzes todas apagadas desde que o mesmo se suicidou, ateando fogo em si mesmo - Em pensar que fomos tão felizes naquela casa de número 43-. Chorei alguns instantes e retirei a última carta que ele escrevera do bolso.
Olhei por uma última vez, chorei mais um pouco, coloquei a carta em frente à porta e dei as costas.

Acendi outro cigarro e segui em direção à um rumo desconhecido, carregando apenas saudades nos olhos e esperando que as memórias queimem. Assim como Bruno, que foi consumido pouco a pouco pelas chamas.

sábado, 7 de maio de 2011

Porto Alegre.

A: Você já se sentiu quebrado? Como se faltasse algo?
B: Por muitas vezes. Mas porque a pergunta?
A: Eu estou exatamente assim...
B: Desde quando?
A: Desde que você fez as malas e partiu pra Porto Alegre. Levou tudo, exceto eu.
B: E se eu disser que deixei meu coração no teu apartamento?
A: Eu vou saber que é mentira.
B: Porque haveria de ser?
A: Porque te sinto ausente, a todo tempo. E sei que está.
B: Tu fala coisas sem sentido.
A: Esse é o problema, nada faz sentido quando não te tenho aqui.

terça-feira, 1 de março de 2011

Nós estávamos ali, em meio a tanta gente, parados como duas estátuas em meio à calçada escura, sem falar nada. Enquanto você fumava, eu contemplava a fumaça que saía de seu cigarro em movimentos sinuosos.
Você parecia não notar a forma com que meus olhos lhe fitavam. Parecia nem ao menos notar que minha boca estava se segurando para não pronunciar o que devia ser dito.

Há algum tempo, quero dizer-lhe que venho usando novos adjetivos para nós. Estou deixando todas as nossas antigas definições partirem, já não ando suportando tanto ódio- ‘Odiar’, essa é a palavra certa-.
Odeio o modo como me despreza, o modo como finge não se importar e o jeito como dá as costas sem ao menos despedir-se. Odeio a forma com que ignora minhas palavras. Odeio como me olha e também como se aproxima.
Acaso percebeu que não mais nos suportamos? Percebeu que o mesmo amor de algum tempo atrás se transformou em ódio? Percebeu ao menos que mesmo depois de tudo, ainda preciso de você?

Naquele dia, naquela calçada, meu único desejo era que você se levantasse e me abraçasse por um longo tempo. Não precisava dizer nada, nem mesmo explicar-se. Tudo o que eu queria era um abraço. A conversa não precisaria se estender, apenas um abraço e nada mais. Mas vejo que não há chances de te fazer voltar a ser o mesmo guri que conheci no dia da primeira apresentação de teclado e poesia.

Tudo o que você fazia naquela noite era dar goladas frias na garrafa de bebida que o guri ao lado tinha em mãos.
O cheiro de vodka exalava de sua boca. Não era você, não era eu… Não éramos nós.

Quando menos esperei, você sentou ao meu lado e seguiu com a seguinte frase: “Você não presta, nunca prestou.” Levantou-se e simplesmente saiu andando, -deu as costas- sem ao menos olhar pra trás.
Eu nada fiz. Continuei parada observando você sumir ao horizonte.
A neblina embaçava minha visão. Mas mesmo que não enxergasse um palmo a alguns quilômetros, não me saía da cabeça a cena de tua partida.

E é exatamente isso que anda me atormentando todos os dias.
Pois toda vez que te vejo chegando, é como se você ainda estivesse partindo pra longe de mim.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A gente tem a maldita mania de achar que pessoas são pra sempre, e sentimentos também.
Vivemos nos entregando demais pra quem se quer teve a mesma intenção.
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Eis meu erro.
Eu vivo esquecendo que pessoas mudam. E embora elas mudem, sei que não é por mal.
Elas mudam porque é preciso; porque algo lhes aconteceu pra fazê-las dessa forma. É como já dizia o grande Fito Páez: “O homem se faz forte quando se decepciona.” E eu vejo que esse tem sido teu motivo.

O que tem acontecido contigo meu pequeno guri? Qual sua mais recente decepção? Porque não és mais o guri que conheci há uns anos atrás?

Eu nunca insisto, eu apenas peço.
E hoje peço, por favor, não feche mais os olhos pro passado. Lembre de quem esteve sempre aqui, sempre vai estar. Pois, eu já não quero ter que abrir a janela e deixar que o vento carregue todas aquelas lembranças…

Dói fingir que está tudo bem. Que eu tô legal e tu não precisa se preocupar.
Dói não ter uma resposta.

Tá doendo tanto…
Mas não lhe peço muito, apenas que prometa.

Promete que não vai me deixar partir?
Porque sinceramente, eu também não quero ter que deixá-lo ir.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Entrelinhas

“O homem se faz forte quando se decepciona”. (Fito Páez)
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Já fazem 7 meses. O homem finalmente perdeu sua coragem.

-Cadê tu que se fazia de forte e carregava sempre um sorriso estampado no rosto?
-Cadê tu que nunca soube o significado da palavra amor?
-Voou.

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De tanto caminhar olhando pro alto deve ter tropeçado e quando não encontrou ninguém, veio me chamar. O único problema era que eu já não estava ali- sentada no mesmo banco de 7 meses atrás esperando o garoto de sempre. Talvez você tenha chegado tarde, talvez cedo demais.

Pára, pára tudo.

Você chamou o meu nome, mas seus gritos soaram baixos desta vez. Ninguém lhe ouviu.
Enquanto anoitecia só te restava caminhar em direção as sombras. Você seguia olhando sempre pra trás (algo que não costumava fazer). Era o medo despertando em seu peito aflito.

Você estava sozinho agora, não havia ninguém ali.

A noite passara tão depressa que nem percebera.
Quando o dia clareou seu corpo suava frio como quem perdera o único fio de esperança que restava.

Eis que você resolve voltar em frente ao banco de sempre.
Não há garota nenhuma ali, se conforme.

Ao caminhar para um próximo banco, lá está. Sentada, como sempre. Porém, mais a frente. Os
garotos que passam por ali agora são outros. E quem ela tanto ama, já não é mais a você.

E antes de dizer que se decepcionou com ela, saiba que antes ela se decepcionou contigo.


Está na hora de se fazer forte, de novo.

03:17 a.m.

O telefone toca.
Meus pés tocam o chão e caminham em passos silenciosos pela casa à procura do aparelho. A escuridão toma conta dos corredores que levam em direção a sala, eu não consigo ver um palmo sequer a minha frente.
Tudo é silêncio, o único som que consigo ouvir é o do telefone a tocar.
Cada vez mais o toque chega a ser perturbador.

"Deve ser algo grave. Afinal, a pessoa insiste em ser atendida." Pensei.

Sigo com meus passos esbarrando em móveis.
Por coincidência, ao me apoiar na parede, coloco a mão em cima de um interruptor. Finalmente consigo acender a luz.

O aparelho está jogado sobre o sofá, continua tocando.
Tomo-o rapidamente em mãos, atendendo.

A: Alô?
B: Oi.
A: Tu me ligando a essa hora?
B: Desculpa.
A: Tudo bem, só pensei que pudesse ser algo grave.
B: Mas não deixa de ser.
A: O que houve?
B: Eu precisava ouvir tua voz antes de me deitar.
A: Pra falar a verdade, eu já precisei disso muitas vezes.
B: E porque não me ligou?
A: Eu já tentei, mas tu sempre desligava.
B: Desculpa.
A: Tu sempre diz isso.
B: ... Eu preciso te ver
A: Eu já precisei te ver.
B: Isso foi um não?
A: Talvez.
B: Não quer tentar?
A: Porque deveria?
B: Porque dessa vez pode ser diferente.
A: E se não for?
B: Continue parado então.
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