sexta-feira, 13 de maio de 2011

A gente procura se perder,

Mas uma hora precisa se reencontrar.
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Retirei do bolso um isqueiro- que já nem lembrava que tinha- saquei um cigarro e acendi.
Continuei descendo a ladeira em direção à casa de Bruno com passos pesados e ziguezagueantes. (Confesso que com alguns pensamentos revirados, também.) As memórias passavam como flash-backs em minha cabeça.
Naquele momento eu me lembrava de Bruno. Era como se eu revirasse o passado, sem pular nenhuma parte.
Lembrava-me de quando nos conhecemos e de nossa afinidade imediata.
A brisa gelada da madrugada parecia me remeter à sua voz, calma e gentil; E as luzes alaranjadas e acolhedoras dos postes- que pareciam me cobrir como um véu-, me lembravam dos carinhos no cabelo que ele costumava me fazer de madrugada;
Por um momento, sorri.
Lembrei-me das noites em claro regadas à muito café e cigarros, do pedido de namoro acompanhado de rosas vermelhas e das vezes em que chegávamos juntos e embriagados plena 7:00 da manhã gritando no meio da rua que éramos as pessoas mais felizes do mundo. E realmente, nós éramos. Nós fomos.
Lembrava-me com clareza de todos os detalhes de nosso passado não muito distante, inclusive de uma última carta que dizia: "E quando eu for partir, não te esqueça: eu sei pra onde ir. E se restar mágoa, desejo que as lágrimas lavem seu rosto como água."
Tornei a realidade, meus olhos imediatamente se encheram de lágrimas. E como Bruno mesmo desejara, as lágrimas lavaram meu rosto como água.
Parei em frente à casa de Bruno- que nessa altura, já estava vazia e com as luzes todas apagadas desde que o mesmo se suicidou, ateando fogo em si mesmo - Em pensar que fomos tão felizes naquela casa de número 43-. Chorei alguns instantes e retirei a última carta que ele escrevera do bolso.
Olhei por uma última vez, chorei mais um pouco, coloquei a carta em frente à porta e dei as costas.

Acendi outro cigarro e segui em direção à um rumo desconhecido, carregando apenas saudades nos olhos e esperando que as memórias queimem. Assim como Bruno, que foi consumido pouco a pouco pelas chamas.

sábado, 7 de maio de 2011

Porto Alegre.

A: Você já se sentiu quebrado? Como se faltasse algo?
B: Por muitas vezes. Mas porque a pergunta?
A: Eu estou exatamente assim...
B: Desde quando?
A: Desde que você fez as malas e partiu pra Porto Alegre. Levou tudo, exceto eu.
B: E se eu disser que deixei meu coração no teu apartamento?
A: Eu vou saber que é mentira.
B: Porque haveria de ser?
A: Porque te sinto ausente, a todo tempo. E sei que está.
B: Tu fala coisas sem sentido.
A: Esse é o problema, nada faz sentido quando não te tenho aqui.